Para a maioria do mundo, a guerra dos consoles dos anos 80 e 90 foi uma batalha de dois lados: o Super Mario da Nintendo contra o Sonic da Sega. Mas no Brasil, a história foi diferente. Aqui, um console que foi ofuscado globalmente não apenas sobreviveu, mas reinou supremo por anos, gravando seu nome na memória de uma geração. Esse fenômeno tem um nome: Tectoy. Esta é a história de como uma empresa brasileira, com marketing genial e uma profunda compreensão do seu público, fez do Master System o console mais amado do país.

O Cenário: Uma Oportunidade no Mercado Brasileiro

No final dos anos 80, o mercado brasileiro de eletrônicos era um território complexo, marcado por reservas de mercado e alta tributação para produtos importados. Foi nesse cenário que a Tectoy, fundada em 1987, viu uma oportunidade. A empresa garantiu os direitos de representar a Sega no Brasil, trazendo oficialmente o Master System para competir em um mercado faminto por novidades. Enquanto a Nintendo demorou a estabelecer uma presença oficial, a Tectoy agiu rápido e de forma decisiva.  

Marketing que Falava a Língua do Povo

O grande trunfo da Tectoy não foi apenas a distribuição, mas a comunicação. A empresa investiu pesado em estratégias de marketing que se conectavam diretamente com o jovem brasileiro. Comerciais de TV icônicos com slogans como “Não tem pra ninguém!” criaram um apelo massivo. Além disso, a Tectoy lançou o programa diário “Master Dicas” na Rede Globo, um espaço crucial que oferecia dicas e segredos de jogos em uma era pré-internet, transformando a empresa em uma fonte de autoridade e confiança para os jogadores.  

A Nacionalização dos Clássicos

Talvez a estratégia mais brilhante da Tectoy tenha sido a localização de conteúdo. A empresa não se limitou a vender os jogos como vinham do exterior; ela os adaptou para a cultura brasileira. O exemplo mais famoso é Mônica no Castelo do Dragão, uma adaptação do jogo Wonder Boy in Monster Land com os personagens de Mauricio de Sousa. A Tectoy também traduziu jogos e manuais para o português, tornando-os muito mais acessíveis. Essa atenção aos detalhes fez com que os brasileiros sentissem que o Master System era, de fato, um produto “deles”. A empresa também esteve por trás de franquias como Zillion e de clássicos como Casino Games, que se tornaram parte do catálogo afetivo do console no país.  

Um Legado Incomparável

O resultado dessa estratégia foi um domínio de mercado sem precedentes. Em seu auge, o Master System chegou a deter 85% do mercado de consoles no Brasil, um feito que não se repetiu em nenhum outro lugar do mundo. O console continuou a ser fabricado e vendido no país por décadas, muito depois de ter sido descontinuado no resto do planeta, com novas versões e pacotes de jogos sendo lançados até os anos 2010.  

A história da Tectoy e do Master System é mais do que uma curiosidade de mercado; é um estudo de caso sobre como entender e respeitar o consumidor local pode levar a um sucesso extraordinário. Para milhões de brasileiros, o ritual de assoprar um cartucho 1 e ligar o Master System não era apenas sobre jogar videogame — era sobre participar de um fenômeno cultural genuinamente brasileiro.

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